Cassação de Deltan Dallagnol
Todo grande município brasileiro tem um Fórum. Prédio onde as pessoas que lidam com o direito: promotores, juízes, advogados, testemunhas, comparecem para movimentar a Justiça. Os processos ou ações podem ser criminais ou cíveis. E os diretamente interessados chamam-se partes. Ora, bem. O leitor, em um determinado dia, intimado de uma audiência, como parte em um processo, comparece ao fórum para acompanhar a ação de seu interesse. No fórum, à sua frente, vê o advogado da parte contrária dar tapinhas amistosos na bochecha do juiz que vai julgar seu caso. Qual é sua reação? Estarrecimento? Medo? Certeza da causa perdida?
Há várias manifestações de afeto entre homens brasileiros. Amigos muito chegados costumam beijar-se nas faces. Os que não se veem a longa data trocam grandes e carinhosos abraços, quase sempre acompanhado de tapinhas nas costas. Os que se encontram a miúde, apertam as mãos. Mesma forma de trato entre autoridades. Austeros apertos de mãos e meio sorriso. Há ainda uma demonstração de carinho que um superior guarda para um subalterno em quem confia e de quem é amigo: tapinhas na bochecha, sinônimo de autoridade e cumplicidade.
Esta última e comprometedora imagem traduz-se em um vídeo verdadeiro em que, em uma cerimônia pública, Lula, réu condenado pela Lava Jato, graças ao trabalho do promotor de Justiça Deltan Dallagnol, dá tapinhas na bochecha do ministro do TSE Benedito Gonçalves, relator do processo de cassação do mesmo Deltan Dallagnol. Meses depois, Benedito Gonçalves julga Deltan culpado e cassa seu mandato. Previsível! Como você se sentiria se fosse consigo? Depende agora de a Câmara de Deputados, altiva, reagir, ou silenciar, temendo represálias do STF ou TSE.