Gaúchas e gaúchos - final feliz
Na década de 1940, circulou pelo mundo um documento apócrifo, em inglês, chamado “Decálogo de Lenin”. Pensamentos atribuídos ao comunista russo, que trazia sua orientação para os adeptos. Como: "corrompa a juventude", "controle os veículos de comunicação" e "divida a população em grupos antagônicos". Ou, quanto pior, melhor. Não era verdadeiro, mas a tentativa dos comunistas de mudar o Hino Rio-grandenses enquadra-se bem nele. Foram derrotados. Mas não devem pairar dúvidas sobre seus propósitos, como alerta diário para os defensores da democracia.
Ora, vejam, como é fácil provar que se tratava de uma tentativa solerte de atentar, com uma afirmação mentirosa, contra um símbolo chave da cultura gaúcha, jogando-nos, uns contra os outros. A última mudança do Hino ocorreu em 1966 e tratou-se apenas de retirar de seus versos rimas que falavam de gregos e romanos. Bem. Em 1958, elegeu-se deputado estadual pelo PTB o advogado negro Carlos Santos. Várias vezes reeleito, chegou à Presidência da Assembleia e foi governador substituto em 1967. Interrompeu a vida pública em 1982. Inteligente, foi um baluarte da causa negra e nunca achou nosso Hino racista.
Alceu Collares, como proclamava, era filho de pai negro e mãe índia. Fez extraordinária carreira como político de esquerda ligado a Leonel Brizola. Vereador, prefeito de Porto Alegre, quatro vezes deputado federal, foi eleito governador para o mandato de 1991 a 1994. Em nenhum momento de sua grande liderança política propos a troca do Hino por considerar racista a expressão "povo que não tem virtude, acaba por ser escravo". Porque ele e seu povo negro e índio, sofridos escravos através da história das Américas, se consideravam gaúchos com virtudes.