Os promotores gaúchos da Justiça
Há 40 anos, eu era promotor de Justiça em Cruz Alta. Com a crescente população e demanda por serviços judiciais, e maior número de promotores, juízes e servidores nas comarcas do interior, os prédios dos fóruns tornaram-se exíguos para o número de servidores necessários. Acotovelavam-se então os promotores em suas salas, atendendo um grande número de pessoas que buscavam a solução de seus problemas pessoais. Que necessitavam de sigilo, em manifestações confidenciais de mães, pais e filhos buscando o amparo da lei. Afora o número crescente de processos em andamento, tanto da esfera cível quanto criminal, que implicavam em muito trabalho sem condições de trabalho.
Era um tempo em que o promotor, trabalhando no Fórum, que era, e é, chefiado por um juiz, passava por figura subordinada a este. Ainda hoje muita gente não sabe que o juiz pertencente ao Poder Judiciário, e o promotor, vinculado ao Ministério Público, são personalidades independentes, sem qualquer espécie de subordinação entre si. O que é fundamental para o bom julgamento do juiz e para a boa representação da sociedade pelo promotor.
Entre um mar de gente e um oceano de processos, naufragávamos, entre mesas e armários que se apertavam. Tive então a ideia de ir embora do Fórum. Instalar-me em prédio próprio, condizente com as necessidades. Sob a ótica reticente e duvidosa de nossa chefia em Porto Alegre, e o apoio decidido de uma então alta funcionária, a brilhante advogada Lúcia Kopitke, pudemos mudar-nos para o prédio próprio. Nada menos que o sobrado do livro O Tempo e o Vento, do Érico Veríssimo. Passados tantos anos, uma ideia forçada pelas circunstâncias, disseminou-se pelas comarcas gaúchas, para o bem dos rio-grandenses.