Para lá da obrigação
Um amigo de Novo Hamburgo, Cézar Fuchs, aposentado que tem como hobby fazer móveis de madeira, junto com outros amigos, se instalaram em uma antiga empresa de equipamentos, hoje fechada. Lá, há semanas já, trabalham montando móveis de madeira construídos por eles mesmos. Mesas, cadeiras, camas, balcões de cozinha. Foi a forma que acharam para ajudar as vítimas das enchentes gaúchas. Centenas de peças já foram distribuídas para famílias que viram seus bens transformados em lixo. Chama a atenção nesta tragédia os milhares de brasileiros voluntários, agindo nas mais diferentes esferas de necessidades. Heróis, todos eles.
Desde os que, com seus barcos ou jet sky cruzaram o Guaíba, em todas as direções, todos os dias, salvando os que estavam em risco de vida, nas ilhas e nas cidades ribeirinhas, até os doadores anônimos. A BBC e outros jornais publicaram a história de Ivan Brizola, 59 anos de idade, morador de Porto Alegre. Sem saber nadar, e sem saber remar, levado pelo espírito de solidariedade, pediu um caíque emprestado a um barraqueiro de peixe da frente de sua casa. Engatado no automóvel, levou o barco até Canoas, cidade fortemente atingida pelas cheias, com milhares de desabrigados e que, nos primeiros momentos, tinha milhares de necessitados de auxílio para sair de suas casas. Segundo ele, mais de 300 pessoas ajudou a remover para lugar seguro.
Agora imaginem: o sujeito sem saber nadar, aprendendo com a necessidade a remar nas águas barrentas do rio, ajudando, com risco da vida, a salvar desconhecidos, levado apenas pelo espirito de altruísmo de que tantos exemplos o Brasil viu naqueles momentos dramáticos. Segundo os economistas, o pior está por vir. O Rio Grande empobreceu com a tragédia.