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Por Donato Heinen. Publicado em 12/09/2024 as 09:26:02

Câmara aprova texto-base de projeto da reoneração gradual da folha de pagamento

Ainda falta ser aprovada a redação final; uma nova sessão foi marcada para esta quinta-feira


Sessão foi presidida pelo deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP). Bruno Spada / Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados aprovou, nos últimos minutos desta quarta-feira (11), o texto-base do projeto de lei que estabelece o regime de transição para a retomada da tributação sobre a folha de pagamento de empresas de 17 setores econômicos (confira a lista abaixo). O placar foi de 253 votos favoráveis, 67 contrários e quatro abstenções. 

Votado o texto-base, os deputados, já após meia-noite desta quinta-feira (12), iniciaram a análise dos destaques — ou seja, as sugestões de modificações. A oposição, que é contrária ao projeto, conseguiu prolongar a votação da redação final do texto, uma etapa protocolar, ao longo da madrugada, quando não houve mais quórum (de 257 deputados) para que fosse feita a análise do tema. Às 2h25min, a sessão foi encerrada, sem que a votação da redação final do texto tivesse terminado. Uma sessão extraordinária foi marcada para as 9h desta quinta.

Se a redação final do projeto for aprovada, o texto seguirá para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O prazo dado pelo Supremo Tribunal Federal para que governo e Congresso entrassem em acordo sobre o tema, com a aprovação de um projeto, encerrava nesta quarta. Por isso, havia o esforço para que esta aprovação acontecesse ainda nesta sessão, sem alterações no texto (o que exigiria que ele voltasse ao Senado). Segundo governistas, a não aprovação poderia fazer com que, já a partir da quinta, as empresas tivessem a tributação aumentada.

A votação aconteceu minutos antes da meia-noite. Deputadas Bia Kicis (PL-DF) e Adriana Ventura (Novo-SP) acusaram o governo de fazer "chantagem" com os parlamentares, por deixar a apresentação do texto para o último dia do prazo dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Elas tentaram adiar a votação, mas sem sucesso.

Segundo a CNN Brasil, por volta de 0h10min desta quinta-feira (12), a Advocacia-Geral da União (AGU) acionou o STF pedindo a prorrogação do prazo por três dias. No pedido, a AGU afirmou que é "necessária a excepcional concessão de prazo adicional de 3 (três) dias úteis, unicamente a fim de que se ultime o processo legislativo em sua etapa derradeira de sanção/veto pelo presidente da República".

Deputada abandonou relatoria

projeto era relatado pela deputada Any Ortiz (Cidadania-RS). Ela chegou ao plenário já por volta das 23h para apresentar seu relatório. Ao usar a tribuna, fez duras críticas ao governo, dizendo que a Câmara foi feita "refém" com o prazo dado pelo Supremo, e afirmou que não assinaria a proposta como relatora.

— Por tudo que me guiou até hoje, não tenho como assinar este relatório, desta forma como foi feito: no limite do prazo, sem possibilidade de construir — afirmou e entregou a relatoria ao líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE).

Apesar disso, Any disse que votaria a favor da proposta:

— Temos uma hora para aprovar esse projeto, para que amanhã os setores não tenham uma conta impagável no seu colo.

O que diz o texto

desoneração da folha é um benefício fiscal que substitui a contribuição previdenciária patronal de 20% incidente sobre a folha de salários por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta.

O texto-base aprovado mantém a desoneração integral da folha das empresas em 2024 e estabelece a retomada gradual da tributação a partir do ano que vem. A transição vai até 2027.

Em relação à folha das prefeituras de municípios com até 156 mil habitantes, o relatório estabelece a manutenção da alíquota de 8% este ano e um aumento gradual a partir do ano que vem.

As principais medidas de compensação

  • Endurecimento no BPC e seguro-defeso
  • Atualização de bens no Imposto de Renda
  • Repatriação de ativos mantidos no Exterior
  • Renegociação de multas aplicadas por agências reguladoras
  • Pente-fino no INSS e em programas sociais
  • Uso de depósitos judiciais esquecidos
  • Programa de cadastro dos benefícios fiscais

De acordo com o portal g1, em relação ao uso de recursos esquecidos em instituições financeiras, houve impasse com o Banco Central. Após conversa entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), chegou-se a um acordo que atende as preocupações do Banco Central. Diante disso, optou-se por uma emenda redacionalevitando que o projeto precise voltar ao Senado.

Os 17 setores econômicos afetados

  • Confecção e vestuário
  • Calçados
  • Construção civil
  • Call center
  • Comunicação
  • Empresa de construção e obras de infraestrutura
  • Couro
  • Fabricação de veículos e carroçarias
  • Máquinas e equipamentos
  • Proteína animal
  • Têxtil
  • Tecnologia da informação (TI)
  • Tecnologia de comunicação (TIC)
  • Projeto de circuitos integrados
  • Transporte metroferroviário de passageiros
  • Transporte rodoviário coletivo
  • Transporte rodoviário de cargas

Relembre

Prorrogada até o fim de 2027, após a aprovação de um projeto de lei que cinco ministros do Supremo consideraram inconstitucional, a desoneração da folha de pagamento permite que empresas de 17 setores substituam a contribuição previdenciária, de 20% sobre a folha de pagamento dos empregados, por uma alíquota de 1% a 4,5% sobre a receita bruta.

Em vigor desde 2012, a desoneração era uma política que, ao beneficiar empresas de diferentes setores com redução de tributos previdenciários, tinha o objetivo de fazê-las contratarem mais trabalhadores.

No fim do ano passado, o Congresso aprovou o projeto de lei que também reduziu de 20% para 8% da folha a contribuição para a Previdência Social de pequenos municípios. O presidente Lula vetou o texto, mas o Congresso derrubou o veto no fim do ano passado.

Nos últimos dias de 2023, o governo editou uma medida provisória revogando a lei aprovada. Por falta de acordo no Congresso para aprovar o texto, o governo concordou em transferir a reoneração para projetos de lei.

​No entanto, no fim de abril, a Advocacia-Geral da União recorreu ao Supremo. O ministro Cristiano Zanin, do STF, acatou o pedido de suspensão imediata da desoneração da folha e da ajuda aos pequenos municípios, e a decisão foi seguida pela maioria dos magistrados do tribunal. A decisão de Zanin deu prazo para que Executivo e Legislativo chegassem a um acordo sobre a compensação da desoneração. O prazo, inicialmente de 60 dias, foi prorrogado até 11 de setembro.


GZH


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