Pânico no galinheiro
O caipira herdou um aviário, lugar onde se criam aves. Que nada mais é do que um grande galinheiro. O negócio não podia dar certo, porque enquanto mandava colher os ovos, os empregados roubavam a produção, recebiam comissões pelas rações, adulteravam guias do trabalho, em suma, um pandemônio próprio de coisa sem dono. Depois, o caipira, viúvo, foi morar em um lugar na cidade grande. Lá, se enrabichou por uma rapariga bonita, que viu a oportunidade de mudar de vida. As aves e os funcionários ficaram por conta, cada uma comendo o que queria, e os paus onde elas subiam, tornou-se aquilo que é um ditado: mais sujo que pau de galinheiro.
Os empregados, uns se encostavam nos outros e todos achavam meios de ganhos ilícitos. Os galos, de crista alta ou sem crista, mandavam e desmandavam, assustando as galinhas, andando imponentes pelo aviário, como se donos fossem. Vai daí que um vizinho, amigo de um delegado de polícia da cidade, convencido por este, viu a oportunidade de fazer um bom negócio: limpar a sujeira, botar ordem no galinheiro, separar as galinhas poedeiras e os galos reprodutores, dar vida nova ao galinheiro.
Pegou os galos com ou sem crista que cacarejavam alto, mas eram inúteis nas necessidades, e, método antigo, torceu seus pescoços. O galo ainda dá uns saltos, pula feito doido, mas o ar lhe falta e ele morre. Pôs ordem na distribuição das rações e, como sempre ocorre, até entre os humanos, na hora que a barriga aperta e a ração falta, é cada um por si ou Ártemis, a deusa dos animais, por todos. Amizades feitas em galinheiro não duram para sempre. Galináceos de diferentes procedências sempre desconfiam uns dos outros e querem o poleiro sujo só para si. Tudo termina como os ratos daquele navio.