O julgamento da década

Quando a Alemanha se rendeu, em 1945, e os soldados de ambos os bandos voltaram para casa, restava às potências aliadas ocupantes do país, julgar os altos escalões do comando alemão. Criou-se então o Tribunal de Nuremberg, cidade alemã não longe de Munich, onde, em um grande prédio recentemente restaurado, reuniram-se juízes e promotores representantes das então grandes potências: Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética.  Como não poderia ser diferente, durante o ano que durou o Tribunal, não se apostava em absolvição, mas sim na quantidade das penas que seriam impostas aos réus.

No julgamento do STF desta semana em Brasília, relativo à denunciada tentativa de golpe de Estado por membros do ex-governo, ninguém aposta na absolvição dos réus, mas sim na quantidade das penas que lhes serão impostas. Serão cinco ministros julgando oito réus, a começar por Jair Bolsonaro. Bolsonaro dispensa apresentação, e quanto mais cedo for condenado, melhor para o centro e a direita brasileira, que terão caminho livre para indicar seus candidatos a presidente e a enfrentar Lula, o candidato da esquerda, no próximo ano.

Os ministros julgadores são, dois antigos ministros do STF, Cármen Lúcia e Luiz Fux, dois recentes membros do tribunal, Cristiano Zanin e Flávio Dino, nomeados por Lula e Alexandre de Moraes, nomeado por Michel Temer. A mulher que pintou com batom a estátua da Justiça em Brasília no episódio da tentativa de golpe recebeu pena de 14 anos de prisão. Os responsáveis pelo incêndio na boate Kiss, tragédia que matou 242 pessoas e feriu 636, em Santa Maria, receberam penas entre 11 e 12 anos de reclusão. Com estes dados, os leitores já calculam a pena que será imposta a turma do Bolsonaro?