De rapper a favorito à liderança de Nova Iorque: quem é Zohran Mamdani, o político que desafia Trump

Durante uma caminhada pelo Upper East Side, Mamdani mal conseguia dar alguns passos sem ser parado por apoiantes. Entre selfies e cumprimentos, o político nascido no Uganda e criado no Queens foi recebido como uma celebridade. “Apoiamos-te, meu!”, gritou um taxista, atravessando a rua para lhe apertar a mão, segundo a mais recente reportagem da BBC.
De rapper a favorito à câmara de Nova Iorque
Desconhecido há apenas alguns meses, Zohran Mamdani passou de rapper, conhecido como "Mr. Cardamom", e conselheiro habitacional a deputado estadual e, agora, favorito à liderança de uma cidade com um orçamento de 116 mil milhões de dólares
Com uma mensagem centrada no custo de vida e no direito à habitação, conquistou os nova-iorquinos mais jovens e desencantados com o Partido Democrata. “É altura de percebermos que defender a democracia não é apenas enfrentar uma administração autoritária. É garantir que essa democracia responde às necessidades materiais da classe trabalhadora. E isso é algo em que falhámos em Nova Iorque”, disse à BBC durante uma viagem de autocarro, em que promovia o seu plano de transporte público gratuito.
Promessas e críticas
Mamdani, que se descreve como socialista democrático, defende políticas "à la" Bernie Sanders: impostos sobre milionários para financiar creches universais, congelamento de rendas, supermercados públicos e autocarros gratuitos
Os críticos, porém, questionam como o candidato planeia financiar medidas que poderiam custar mais de nove mil milhões de dólares. A governadora Kathy Hochul, que o apoia, já afirmou que “é contra o aumento de impostos sobre o rendimento”, embora tenha prometido cooperar para implementar o projeto de creches universais, orçamentado em cinco mil milhões.
O ex-governador Andrew Cuomo, agora candidato independente, acusa Mamdani de ter “uma agenda antiempresarial que vai matar Nova Iorque”. Mamdani respondeu chamando-lhe “marioneta de Trump”
Confrontos com a polícia e o passado político
Em 2020, após o assassinato de George Floyd, Mamdani defendeu a redução do financiamento da polícia e descreveu a NYPD como “racista” — algo de que mais tarde se retratou. “Estava errado. Já não tenho essas opiniões”, garante à BBC.
Para demonstrar que não será brando com o crime, prometeu manter os níveis atuais de efetivos da polícia e convidar a comissária Jessica Tisch a continuar no cargo
Divisões sobre Gaza e o peso da identidade
Mamdani tem sido firme no seu apoio aos direitos palestinianos, o que o colocou em rota de colisão com o núcleo tradicional do Partido Democrata e parte da comunidade judaica nova-iorquina. Durante a campanha, recusou condenar o slogan “globalizar a intifada” ("globalise the intifada") mas, após críticas, admitiu ter pedido aos apoiantes para deixarem de o usar.
Perante um aumento de ataques islamofóbicos, incluindo ameaças de morte de um homem no Texas, Mamdani fez um discurso emocionado: “Achei que, ao ignorar os ataques racistas e concentrar-me na mensagem central, poderia ser mais do que a minha fé. Estava errado. Nenhuma quantidade de redirecionamento é suficiente”.
Entre o entusiasmo e o ceticismo
Nas ruas, o entusiasmo é palpável. “Apoio-o porque vejo todos os dias como o custo de vida continua a subir e ninguém faz nada. Queremos uma cidade acessível”, disse Miles Ashton, advogado de habitação, à BBC
Mas há também dúvidas. O empresário Jeffrey Gural, dono de um casino e crítico das suas políticas fiscais, afirmou: "É demasiado inexperiente para liderar a maior cidade do país. Mas o plano de creches universais é algo que eu próprio aplico aos meus funcionários e apoio completamente".
Um símbolo para os progressistas
Para muitos eleitores, Mamdani representa mais do que uma escolha local. “Esta corrida significa muito porque é aqui, onde vivemos. Mas também envia uma mensagem ao topo sobre o tipo de política que queremos ver no Partido Democrata”, disse Paloma Nadera, voluntária num evento de campanha, de 38 anos, também ao canal britânico.
Acrescentou ainda que a última vez que se sentiu tão entusiasmada para votar foi em Barack Obama, em 2008. Desde então, dececionou-se com o que chamou falta de coragem dentro do partido.
Dentro deste espírito e mesmo antes do escrutínio de terça-feira, Mamdani já é visto como um símbolo de renovação política — e como o rosto de uma esquerda nova-iorquina disposta a desafiar não só Donald Trump, mas também a velha guarda do seu próprio partido.
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Beatriz Cavaca
24 NOTICIAS

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