Da folha A4 e resenha para o estudo e a tecnologia

Havia, entre os torcedores do Grêmio, uma tristeza que se arrastava como uma sombra persistente: ao contemplar o panorama do futebol contemporâneo, viam outras equipes conduzidas por técnicos de pulso firme, homens de método e saber, estudiosos da arte tática e da ciência esportiva. Treinadores que, como mestres renascentistas, não negligenciavam nenhum detalhe da preparação de seus atletas — Abel Ferreira, por exemplo, examinava-os até o sono, como se cada instante de repouso fosse uma variável a ser domada na busca pelo desempenho ideal.
O Grêmio, porém, era regido por outra filosofia. Seu comandante de então proclamava, com o entusiasmo dos que se orgulham da ignorância, que estudar era um luxo dispensável, que o verdadeiro futebol nascia do improviso, do treino lúdico, da informalidade dos rachões e das partidas de futevôlei. Seu símbolo? Uma folha A4, amarrotada e despretensiosa, onde se lia a escalação rabiscada de um elenco cujos nomes ele sequer havia se dado ao trabalho de memorizar.
Eis que, como um vento que dissipa a névoa estagnada, chegou Gustavo Quinteros. Com ele, o que fora anseio tornou-se realidade: um técnico de feições severas e mente incansável, devotado ao trabalho, à análise meticulosa, à minúcia do jogo pensado. Seus auxiliares, armados com dispositivos eletrônicos, registravam cada instante da partida; observavam, com olhos de estrategistas, o desenho das linhas, a ocupação dos espaços, o sutil balé das movimentações. Nada escapava a seus cálculos, e Quinteros recebia, em tempo real, um diagnóstico preciso daquilo que seus comandados executavam e daquilo que o adversário permitia.
E o efeito dessa revolução fez-se sentir como um sismo que reconfigura a paisagem. O Grêmio, antes entregue a um acaso indulgente, resplandecia agora em organização e harmonia. Os jogadores, como se despertados de um torpor antigo, teciam tramas de passes velozes e lúcidos, ocupavam os espaços com inteligência orgânica, defendiam como um corpo coeso, negando ao oponente qualquer brecha para golpear. Até então, não haviam sofrido sequer um único gol.
Assim, do pedaço de papel solitário à tecnologia aplicada, do improviso à precisão, do amadorismo ao profissionalismo, o Grêmio experimentou um salto — e, com ele, o coração de seu torcedor, antes contido pelo ceticismo, voltou a bater com a pulsação vibrante da esperança.